NADA DE NOVO NO FRONT
Wilson Coêlho
Apesar
de você/ Amanhã há de ser/ Outro dia
Inda pago pra ver/ O jardim florescer
Qual você não queria/ Você vai se amargar
Vendo o dia raiar/ Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir/ Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa. Chico Buarque
Inda pago pra ver/ O jardim florescer
Qual você não queria/ Você vai se amargar
Vendo o dia raiar/ Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir/ Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa. Chico Buarque
Faz-se necessário
recorrer à memória para entendermos que os editais de cultura da Secult-ES não
estão em separado da conjuntura e da política neoliberal do governo do Espírito
Santo. Sem querer ser didático, parece ser interessante montar alguns dados.
Paulo Hartung é o governador do estado do Espírito Santo e, a famigerada
Secult-ES, órgão desmoralizado, sem orçamento e sem nenhum poder, não passa de
um órgão a serviço deste governo, principalmente no que diz respeito a sua
tarefa de fortalecer ainda mais e favorecer os empresários, como uma estratégia
de sucatear a “res publica”. Recordar é viver. A arte e a cultura, para Paulo
Hartung, desde sua eleição para o DCE – Diretório Acadêmico dos Estudantes da
UFES, em tempos remotos, dizem seus contemporâneos do movimento estudantil que
não eram de seu grupo, sempre foram entendidas como meras ações utilitárias com
fins eleitoreiros. Uma ação cultural, para o dito cujo, nunca deveria ser
realizada com autonomia, mas com o objetivo único de referendar e “embelezar”
as propostas de seu grupo que, diga-se de passagem, muitos de seus integrantes
compõem seu atual governo.
Caminhando um pouco mais
e, embora de forma resumida, cabe recordar o tempo em que foi prefeito de
Vitória, eleito depois da administração de Vitor Buaiz que, de certa forma, foi
referência nacional, com a criação da Escola de Artes FAFI, da lei de incentivo
“Rubem Braga”, a segunda do Brasil e, entre outras coisas, destaque pela
atuação do Conselho Municipal de Cultura, a urbanização da Grande São Pedro,
cultura nos bairros, etc.
Pois bem, Paulo Hartung
eleito prefeito de Vitória, apesar de ter dado posse aos conselheiros eleitos
na administração anterior pela sociedade civil, o atravancou com o retardo da
convocação das reuniões e, com muita má vontade, se propunha a liberar o mínimo
estabelecido na Lei “Rubem Braga” para a aplicação dos recursos de incentivo à
produção cultural. Depois, para lhe suceder, ainda inventou Luís Paulo Velloso
Lucas, não somente para dar continuidade do seu projeto, mas também para
emperrar mais a cultura, reafirmando a Secretaria Municipal de Cultura como
simples aparelho a serviço do neoliberalismo que além de trazer como secretária
municipal de cultura uma estrangeira, Cláudia Cabral, vindo do Rio de Janeiro,
ainda acabou terceirizando a gestão da Escola de Teatro e Dança FAFI.
Mais tarde, tendo sido
eleito em 2002, Paulo Hartung assumiu o governo do estado em 2003 e, aos 31 de
março do mesmo ano, revogou a lei de Incentivo Fiscal para a Cultura que havia
sido aprovada em 2000 pelo seu antecessor José Ignácio. Em julho de 2003,
desarticulou e desativou o CEC – Conselho Estadual de Cultura. Em 24 de julho
de 2008, no seu segundo mandato, publicou um decreto vetando o Estado de celebrar
convênios. Em seguida, aos 7 de agosto de 2008, reestrutura a seu modo o CEC e
dá posse aos conselheiros. Aos 25 de agosto de 2008, celebra o Contrato de
Competitividade com as empresas do comércio atacadista. É criado o Instituto
Sincades para manipular verbas públicas sem necessidade de prestação de contas.
Alimentando uma falácia,
conforme publicado pelo governo, “este Contrato de Competitividade estabelece o
compromisso das partes em aumentar a competitividade das empresas do Comércio
Atacadista estabelecidas no Estado do Espírito Santo, em relação às similares
de outras regiões do país. Em contrapartida aos incentivos tributários
concedidos pelo Governo do Estado, o setor pactuante se compromete a investir
em ações que resultem em seu próprio desenvolvimento socioeconômico e
sustentável. O objetivo é garantir a manutenção e criação de empregos,
ocupação, renda e evolução na capacitação profissional da população local,
simultâneo a incrementação na capacidade comercial atacadista do setor.”
Ainda confere aos
empresários o poder da destinação interestadual dos produtos, onde “O
estabelecimento comercial atacadista estabelecido neste Estado poderá a cada
período de apuração estornar do montante do débito registrado por ocasião das
saídas interestaduais o percentual equivalente a trinta e três por cento (33%),
de forma que, a carga tributária efetiva máxima resulte no percentual de um por
cento (1%)”.
Trocando em miúdos,
conforme a reunião do dia 24 de Janeiro de 2013, com a “Prestação de Contas do
Instituto Sincades”, que foi uma reivindicação dos Conselheiros do CEC desde
sua reestruturação, ficou muito claro que o governo de Paulo Hartung abriu mão
de onze por cento (11%) dos 12 que deveriam pagar os atacadistas de ICMS. Essa
renúncia fiscal ou concessão se sustentava da mentira de que estas empresas
investiriam para aumentar sua “competitividade no mercado”. O que parece muito
claro é que tudo não passou e não passa de uma farsa, considerando que nem os
cofres públicos capixabas se beneficiaram desse “acordo”, tendo em vista que em
nada alteraram os preços das mercadorias para o cidadão capixaba, não gerou
empregos e apenas favoreceu as aventuras do Instituto Sincades de promover
eventos faraônicos e sem a participação do movimento cultural do nosso estado.
Voltando à questão da
conjuntura, podemos avaliar algumas outras questões. Será possível acreditar
que o Espírito Santo ser o segundo lugar na criminalidade do Brasil esteja
separado da forma como o Estado lida com a sua cultura? Será que o estado com o
maior índice de assassinato de mulheres no Brasil não tem nada a ver com o
descaso que o governo trata a sua cultura? Parece que o tema dos editais de
cultura não passa da ponta de um iceberg que congela os sonhos dos capixabas
que pensam num mundo melhor e mais humanitário. E, ainda, voltando ao chamado
impasse entre as propostas do governo em contradição com os anseios do
movimento cultural, a Secult propõe reuniões isoladas com segmentos culturais.
Outra demonstração de autoritarismo e falta de vontade política em colocar na
mesa as verdadeiras questões para se desfazer alguns impasses. Creio que o mais
honesto seria um fórum aberto com toda a sociedade para que nós da sociedade
civil pudéssemos fazer cair as máscaras desse governo que faz acordo com empresários
como se não existisse a sociedade civil. Não é por acaso que o Espírito Santo é
visto como uma espécie de filho bastardo da região sudeste.
Enfim,
creio que se faz necessário ampliar os debates e posicionamentos das entidades
locais, bem como uma mobilização e envolvimentos das entidades nacionais para
que a imagem do Espírito Santo não seja refém de uma imprensa comprometida com
os segmentos tradicionais e reacionários do empresariado que faz de todos nós
apenas o canteiro de seus lucros e manutenção de seus domínios.
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